sábado, 18 de janeiro de 2014

Se foi




Ontem eu sonhei que sonhávamos juntos, que de mãos dadas, novamente, reconstruíamos nosso tão doce castelo de areia.

Era como se pegássemos todos os grãos um a um; um sorriso, um olhar, um piada, um beijo, tantos desejos; e com o passar do tempo tudo foi tomando forma novamente, voltando a crescer entre suas majestosas torres de expectativas aonde não se via fim.

Uma vez o homem quis desafiar a Deus construindo torres até o céu e, como castigo, fomos espalhados pelo mundo e confundidos em várias línguas. Bem, acho que não aprendemos a lição e talvez nunca aprenderemos, como seres falhos que somos, pois as torres de todos os castelos quase sempre encontrem um limite e se desfazem, restando no final apenas estranhos, que entendem o amor cada um a sua forma, isso quando ainda o resta.

Quando me veio tal devaneio, eu olhei no fundo dos teus olhos e disse, deixando transparecer um medo quase juvenil, por mais que eu não quisesse:


– Porque precisam ser tão grandes? Vou parar as minhas por aqui.
– Porque não podemos deixar de sonhar. Elas alimentam nosso amor – Você disse.
– Então viver de sonhos é o que nos resta? - Eu respondi.

De repente, suas palavras se foram, seus olhos se viraram para os meus e por eles eu pude saber o que sairia dos seus lábios em seguida, a verdade. A verdade assusta, ela é direta, ela não tem sentimentos. Todos a querem, mas poucos a conseguem suportar, e eu sentia aquele peso a caminho do meu peito.

Eu já sabia a sua resposta e o vento se encarregou de confirmá-la antes que você pudesse proferir as seguintes palavras:

– É o que somos. Nosso castelo sempre foi de areia.

E se foi.